Político, ativista, professor, economista, poeta, artista plástico, ator e dramaturgo, fundador do Teatro Experimental do Negro, Abdias Nascimento nasceu na cidade de Franca, no interior de São Paulo. Neto de ex-escrava, filho de sapateiro e mãe cozinheira foi criado em um ambiente rural. Mesmo com as dificuldades daquela época, teve acesso à escola, onde começou a perceber e a questionar as manifestações racistas que vigoravam naquele ambiente em que estava crescendo. Um destes questionamentos foi quando percebeu que nunca era chamado para participar das peças de teatro na escola. Mesmo não atuando nas apresentações, ele prestava atenção nos roteiros e encenava-os ao seu modo em sua casa. E é neste período que começa a manifestar o seu interesse pelo teatro.  À medida que ia crescendo, seus planos para o futuro cada vez mais se ampliavam. Desde cedo já mostrava ter um gênio forte e ser uma pessoa que não aceitava ser humilhado.


 (Cena do TEN)

 Sua sede de conhecimento o impulsionou a sair de sua cidade e ir para São Paulo em busca de estudo e trabalho, passando então por inúmeras dificuldades. Na década de 1930, se alista no exército como voluntário, mas não segue a carreira militar. Neste período, começa a protestar contra a ditadura de Getúlio Vargas, e é preso pela primeira vez em 1937. Após sair da prisão, organiza o Congresso Afro-Campineiro com um grupo de militantes negros. Mais tarde, torna-se integrante da Santa Hermandad Orquidea, grupo de poetas argentinos com quem viaja fazendo uma série de palestras com reflexões sobre a situação do negro no teatro. Ao assistir a uma apresentação de O Imperador Jones, de Eugene O’Neill, cujo protagonista era negro, fica profundamente incomodado com o fato do personagem ser interpretado por um branco pintado de preto. Não é de espantar o tamanho de sua indignação quanto a este ato racista tão comum naqueles tempos, e é em razão deste incômodo que começa a arquitetar vários projetos.

 (Cena do TEN)


 Em 1941, quando encarcerado na Penitenciária de Carandiru, fundou o “Teatro do Sentenciado”, tendo como roteiristas e atores os próprios presos. Três anos depois, funda o “Teatro Experimental do Negro” – TEN –, onde se formou a primeira geração de atores negros no país. Com o seu olhar sagaz sobre a ausência de atuação afrodescendente nos palcos, Abdias sai da prisão decidido a levar o seu projeto adiante e busca apoio entre a intelectualidade negra do Rio de Janeiro e de São Paulo.



 (Cena do TEN)


Além de ser uma escola de teatro, o TEN funcionava também como um espaço educativo, onde os participantes aprendiam a ler e a escrever, faziam cursos sobre temas voltados para a cultura afro-brasileira. Tinham assim oportunidade de ampliar a sua participação numa comunidade em que os preconceitos e a hostilidade predominavam.


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